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A malandragem de Oscar Wilde

  • Nícolas Teixeira Cabral
  • 7 de mar. de 2018
  • 4 min de leitura

Esses dias eu topei um livrinho de bolso muito elegante da Penguin na estante da minha irmã. Era uma coleção de frases de Oscar Wilde chamada Only Dull People Are Brilliant at Breakfast.

Oscar Wilde foi um dramaturgo de sucesso no Reino Unido do século XIX. Além de teatro, também escreveu poemas e o romance O retrato de Dorian Gray. Nos últimos anos de vida, foi preso por dois anos por práticas homossexuais.

O próprio.

Wilde é uma das pessoas mais citáveis que eu conheço. Suas frases são cheias de ironia, arrogância e desprezo pelos valores morais da sociedade. Ele não mede suas palavras, usando sempre expressões exageradas para se referir a coisas simples.

Vejamos, por exemplo, a carência de humildade com que o Senhor Wilde descreve sua própria inteligência:

I am so clever that sometimes I don't understand a single word of what I am saying.

(Eu sou tão inteligente que às vezes não entendo nem uma palavra do que estou falando).

Mas a convicção de sua intelectualidade proeminente é apenas o começo da autoestima de Wilde:

The only thing that sustains one through life is the consciousness of the immense inferiority of everybody else, and this is a feeling that I have always cultivated.

(A única coisa que nos sustenta durante a vida é a consciência da grande inferioridade de todos os outros, e esse é um sentimento que eu sempre cultivei).

E sua crença em sua própria sublimidade não se restringe às matérias cognitivas:

I never travel without my diary. One should always have something sensational to read in the train.

(Eu nunca viajo sem meu diário. Uma pessoa sempre deve ter algo sensacional para ler no trem).

Convencido da inferioridade de todos os outros em relação a ele, não é de estranhar que Wilde tenha cultivado um profundo desprezo por instituições sociais como o casamento:

One should always be in love. That is the reason one should never marry.

(Uma pessoa deve estar sempre apaixonada. Essa é a razão pela qual ninguém deve se casar).

The proper basis for marriage is a mutual misunderstanding.

(A verdadeira base do casamento é um mal-entendido mútuo).

The one charm of marriage is that it makes a life of deception absolutely necessary for both parties.

(O único charme do casamento é que ele torna uma vida de enganos absolutamente necessária para os dois esposos).

Em meio a seu terrível desgosto pelas convenções sociais, Wilde amava a arte. E, como um bom artista, Wilde prezava a forma acima de tudo. Acima de tudo:

There is no such thing as a moral or an immoral book. Books are well written, or badly written. That is all.

(Não existe livro moral ou imoral. Livros são bem escritos ou mal escritos. Isso é tudo).

Amor pela arte, ironia e frases hiperbólicas, essa é a receita.

A poet can survive everything but a misprint.

(Um poeta pode sobreviver a tudo, menos um erro de impressão).

Até quando o assunto não é exatamente arte:

In all unimportant matters, style, not sincerity, is the essential. In all important matters, style, not sincerity, is the essential.

(Em todos os assuntos desimportantes, estilo, não sinceridade, é o essencial. Em todos os assuntos importantes, estilo, não sinceridade, é o essencial).

Parece apenas uma frase jocosa à primeira vista, mas Wilde faz um ponto interessante aqui. De fato, em debates e discursos, a oratória parece ser muito mais importante para convencer o público do que é a veracidade dos argumentos.

Mesmo com toda essa aparente futilidade e vaidade de Oscar Wilde, o poeta também deixou frases que mostram uma sensibilidade muito aguçada às inclinações humanas:

Anybody can sympathize with the sufferings of a friend, but it requires a very fine nature – it requires, in fact, that nature of a true Individualist – to sympathize with a friend's success.

(Qualquer um pode simpatizar com o sofrimento de um amigo, mas requer um caráter muito fino – requer, de fato, o caráter de um verdadeiro Individualista – simpatizar com o sucesso de um amigo).

De repente, apesar da arrogância, Wilde não parece mais tão egocêntrico como parecia:

Selfishness is not living as one wishes to live, it is asking others to live as one wishes to live.

(Egoísmo não é viver como se quer, mas pedir a outros que vivam como você quer).

Dá até para citar o poeta maldito nas discussões sobre a intervenção militar no Rio...

A community is infinitely more brutalized by the habitual employment of punishment, than it is by the occasional occurrence of crime.

(A comunidade é infinitamente mais brutalizada pelo emprego habitual de castigos do que é pela ocorrência ocasional de crimes).

... é só tirar o "ocasional".

Wilde vai direto ao ponto para nos lembrar do quanto somos mesquinhos:

There are many things that we would throw away if we were not afraid that others might pick them up.

(Há muitas coisas que jogaríamos fora se não tivéssemos medo de que os outros as pegassem).

Assim como outros poetas malditos, de Rimbaud a Cazuza, Wilde expressa uma relação muito forte com a tristeza, nesta frase que lembra bastante a canção Hurt, de Johnny Cash:

There is no truth comparable to Sorrow. There are times when Sorrow seems to me to be the only truth.

(Não há verdade como a Tristeza. Tem vezes que a Tristeza me parece a única verdade).

Por fim, Wilde compara sua própria vida às eleições presidenciais do Brasil em 2018:

My existence is a scandal.

(Minha existência é um escândalo).

Figura por Napoleon Sarony (modificada).


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