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Um ano perdido

Uberlândia, 04 de outubro de 2018.

Há um ano, dia 04 de outubro de 2017, lancei este blog, publicando pela primeira vez minha ficção de autoria própria favorita: Pequenos gestos de bravura.

Era quarta-feira. No mesmo dia em que publiquei a crônica, parei de comer carne, decisão que durou seis meses. Desde então (há seis meses), estou de volta à onivoridade, mas devo em breve retornar à abstenção que me permitia viver alheio à degola dos animais e à asfixia dos peixes, pois não são justas.

Comecei a publicar um texto por semana, e mantive esse ritmo por nove meses. A partir de julho, passei a me enrolar cada vez mais. Em agosto e setembro, quase não publiquei; e o que publiquei foram majoritariamente traduções, na falta de material próprio. Os compromissos da vida têm dificultado o ritmo que a mim próprio impus um ano atrás. Mas o blog continua. Ele vai mostrando como é, e vai sendo como pode.

Tenho escrito ou tentado escrever mais ficções, e pretendo publicá-las. Eu acho mais difícil publicar ficção do que não-ficção. Primeiro porque a não-ficção requer menos criatividade, menos arte: basta escrever bem e ter algo a dizer; já a ficção requer uma criação, uma história boa o bastante para valer o tempo do leitor, e requer uma técnica de escrita mais sofisticada também, eu acho. Segundo porque, ironicamente, a ficção é muito mais íntima do que não-ficção: a não-ficção expõe opiniões, a ficção expõe sentimentos interiores.

Também voltei a escrever poemas, e escrevi alguns poemas eróticos razoavelmente bons nas últimas semanas. Se alguém quiser ver, é só me pedir. Acho que eles casam bem com uma série de crônicas e contos que eu tenho guardada há alguns anos e estou ressuscitando. Estou pensando em juntar poemas e crônicas, como Vinicius fez em "Para viver um grande amor".

Até antes de publicar isto, são 48 posts no blog, quatro a menos do que os 52 que se esperaria em um ano, ao ritmo de um por semana. Seis foram traduções do inglês de textos de vários autores e um foi uma crônica de meu amigo José Renato Resende. Os outros 41 são textos meus, a maioria escritos "sob demanda", ou seja, para o blog, e alguns escritos há mais tempo e resgatados para publicação.

Meus textos preferidos no blog, além de "Pequenos gestos de bravura", são Por quem os sinos dobram, Por que escrevo em um blog que ninguém lê e minha série sobre determinismo e livre arbítrio, que ainda tem uma redação um pouco rudimentar, mas é um assunto muito interessante de se ler e escrever. Também gosto bastante de Somos todos maus caracteres na cama e de Toda a sua vida lhe trouxe até aqui.

A semana está muito mais agitada do que estava um ano atrás. Próximo domingo, nós, os brasileiros, vamos "decidir o futuro do país". Não faltam descortesias entre os que preferem um presidente ou outro, como se tivéssemos nos esquecido de que os bons são maioria.

Pensando nas eleições e na "decisão do futuro do país", eu me lembro de uma frase muito oportuna de David Cain, que já apareceu aqui (n. 41): o voto é apenas uma das formas de decidir o futuro da sociedade, e é um meio pouco eficiente. Seu voto não vai fazer diferença nenhuma; o modo como trata as pessoas próximas a você, isso vai.

Um ano perdido. Que venham os próximos.


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